Os efeitos da pandemia sentem-se nas finanças do mundo do futebol e nas próprias relações entre os clubes, tanto que Sporting e Sp. Braga estão em choque devido aos valores que os bracarenses têm a receber pela transferência de Rúben Amorim para Alvalade.
Como o nosso jornal noticiou, a SAD falhou o pagamento da primeira prestação, de 5 milhões de euros, consequência de uma medida de gestão adotada em Alvalade que visa a retenção de receitas, e não por falta de liquidez. Tanto que, sabe Record, os leões receberam, há cerca de uma semana, 13 milhões de euros vindos de Manchester, decorrentes da transferência de Bruno Fernandes para Old Trafford, no final de janeiro. Algo que chegou aos ouvidos do líder do Sp. Braga, António Salvador, e que aumentou… a insatisfação.
Desta forma, os leões já têm na sua posse praticamente metade do que irão receber pelo ex-capitão – a operação fez-se por 55 M€ fixos, mas pouco mais de 30 M€ entram em Alvalade, dado que há a descontar o que é destinado à banca, empresários ou à Sampdoria, o seu antigo clube.
Ainda que quantia avultada, que permitiria fazer face à dívida a fornecedores (por exemplo, ao Sp. Braga, por Amorim, ou ao Slovan, por Sporar), a SAD optou por manter o dinheiro no clube. A decisão terá partido de Francisco Salgado Zenha, vice-presidente para as finanças, que em entrevista a Record, a 23 de março garantiu que os leões estariam “preparados” para os efeitos da pandemia e que os 10 M€ da cláusula de Amorim seriam retirados do orçamento de 2020/21.
Bracarenses implacáveis
Dado que o montante não foi ontem saldado, o Sp. Braga crê que, a partir de hoje, o ‘bolo’ sobe para os 14 M€, devido a uma alegada penalização prevista no contrato assinado entre os clubes. Se o Sporting, por Salgado Zenha, recusa comentar “detalhes confidenciais de contratos”, os bracarenses, pelo seu presidente da mesa da assembleia geral, António Marques, prometem agir. “As dificuldades de tesouraria do Sporting são públicas […] O presidente António Salvador irá tomar as diligências necessárias e isso deixa-me tranquilo”, frisou, à Rádio Renascença.
Francisco Salgado Zenha: “É ridículo falar de atrasos”
Francisco Salgado Zenha mostra-se tranquilo em relação à decisão de não pagar a primeira ‘tranche’ de Rúben Amorim ao Sp. Braga, nos dois prazos previstos, justificando a tranquilidade com o facto de estarmos a viver uma situação de exceção. “As pessoas falam do ‘caso Amorim’ e de outros, mas uma coisa é certa: estamos a passar por uma situação nunca antes vista. É absolutamente ridículo falarmos de atrasos no pagamento a fornecedores no contexto atual. Ou não se percebe qual é, ou não se sabe gerir uma empresa em condições. O Sporting está a tentar criar uma almofada e condições para ultrapassar este momento, adotando medidas difíceis, para mitigar ao máximo o impacto desta crise. Queremos sair daqui vivos e retomando a atividade dentro da normalidade possível”, assume o administrador da SAD, em declarações à Sport TV, vincando que esta é uma “gestão preocupada”.
“Alguém acredita que o Sporting ou outro clube está a vender bilhetes de época em junho ou julho? Vou ter os estádios abertos em agosto, em setembro? Tenho essa garantia? Fizemos a venda do Bruno Fernandes que nos dá outra capacidade. Temos de gerir bem isto e não nos precipitarmos. Não é só uma gestão preocupada com o dia de hoje ou de amanhã, é também a preparar o que vem a seguir. O Sporting vai cumprir com as suas responsabilidades”, frisou.
‘Proteção’ da lei
Na sua edição de quinta-feira, Record adiantou que o Sporting acredita que a atual conjuntura pode provocar alterações na lei, algo confirmado por Salgado Zenha. “Alterações de circunstâncias fundamentadas por mudanças anormais do contexto podem alterar o teor dos contratos. Alteração mais anormal do que esta não existe”, disse, salientando que “determinados clubes esquecem o contexto e tentam jogar com os média para criar pressão.”