É difícil trabalhar sem dignidade. Verdade. Não é fácil ser treinador num sitio onde o que menos vale é o jogo ou o trabalho do próprio treinador. Primeiro, o endeusamento de um Presidente que confessou o crime de corrupção desportiva e exerce uma tutela quase parental sobre o treinador.
Em segundo, é prestar tributo a um conjunto de adeptos que não respeitam atletas, dirigentes e, claro, o próprio treinador. E ainda afirmam ser o próprio clube.
Em terceiro, é alinhar-se com um departamento de comunicação paranóico e desacreditado por várias fraudes e delinquências. Todos estes se afirmam superiores ao treinador do Porto e na sua diversidade extrínseca estão ligados por investigações que podem resultar em condenações civis e penais.
Ou seja, ser treinador do Porto é ser uma figura menor, embora útil, de um gigantesco esquema de coação. É aceitar tudo o que for preciso para que o Porto ganhe. Mesmo tudo. Não raras vezes ouvimos ex-atletas falarem do seu tempo de jogadores do Porto e percebemos o que se passa, o que é “o tudo”… Também é difícil, só em meia época, já ter sido acusado de se envolver em confrontos físicos com o capitão de equipa e com outro treinador, durante um intervalo de um jogo.
Portanto, trabalhar nestas condições é recorrer à manipulação da verdade para “parecer” ter condições de liderar, quando na verdade não se tem o respeito de ninguém: jogadores, colegas, adeptos, comunicação social, árbitros, a sociedade em geral. Para tanto, contribui a aceitação de alguém que se senta ao seu lado numa conferência de imprensa para tratar da sua incapacidade, da sua incontinência verbal e emocional. Ser treinador nestas condições é estar proibido de reconhecer o mérito de um campeão – o Sport Lisboa e Benfica – que recupera um atraso de sete pontos e assume a liderança, num confronto direto, na casa do rival, só porque existe uma cartilha de ódio para seguir.
Ser treinador, assim, é dar a cara por uma cultura de violência e ficar refém da mesma. Por tudo isto, e muito mais, é que Sérgio Conceição, após mais uma derrota humilhante e indesculpável, por ser a segunda em oito dias, não se demite e “apenas” põe o lugar à disposição, invocando desculpas de mau perdedor. Ser treinador nestas condições é ser cobarde.