Numa sociedade a sério a capa de ontem do Correio da Manhã seria o tema principal em todas as televisões até haver consequências para os magistrados. Juízes que recusam fazer buscas – se isto não é o fim do Estado de Direito, não sabemos então o que será.
Não é para menos que sai um artigo na revista Sábado e apenas um mês depois é que se realizam as buscas. Os suspeitos tiveram tempo mais que suficiente para limpar tudo, esperar os magistrados e os elementos da Inspeção Tributária da AT e da PSP e dar-lhes as boas-vindas. Este país é uma paródia.
De um lado temos o Ministério Público que se diverte a promover, de forma inqualificável, um linchamento mediático ao Benfica ao permitir que escutas sem qualquer relevância pública sejam divulgadas na imprensa. Do outro vemos três juízes do Tribunal de Instrução Criminal do Porto recusar participar nas buscas ao universo do FC Porto. Há um ditado popular que diz: “amigos, amigos, negócios à parte!”, que é como quem diz, não devemos misturar a amizade com os negócios. Um juiz ao pedir escusa por razões de amizade está a assumir incapacidade de ser emocionalmente independente, e, como tal, de ser competente. Isto devia ser o quanto bastasse para essa pessoa deixar de ser juiz. Sucintamente, por ser amigo recusa-se a fazer o seu trabalho. Tem esse direito, mas não devia ter o direito de manter o seu posto de trabalho.
A instrumentalização do Ministério Público contra o Benfica e em proteção do FC Porto é deveras evidente, por mais que a comunicação social manietada, comprada e silenciada pelo poder esmagador da Camorra de Contumil a tente escamotear.
Não há outro clube ou empresa em Portugal – e possivelmente no mundo – que tenha visto todas as suas comunicações expostas à análise e interpretação de quem as quisessem fazer. E quem o quis fazer, certamente não teve dificuldade em extrair criteriosamente conversas que, no seu entender, condenem moralmente os envolvidos ao ponto de influenciar e manipular a opinião pública, fomentando o julgamento mediático.
O único desiderato deste processo é massacrar o SL Benfica, classificando-o como um clube envolvido em esquemas de corrupção financeira, de desvios de dinheiro e más práticas de gestão do qual todos os envolvidos, mesmo apenas por ordem de relação com os visados, passam a ser cúmplices. Porém, passados cinco anos deste os famigerados e-mails, nenhuma acusação. E a constatação, hoje cada vez mais inequívoca, de que o SL Benfica é o mais limpo de um futebol português sujo.
A cidade do Porto é um enclave. Um pequeno estado autónomo envolvido por outro onde o aparelho judicial é controlado por um clube de futebol. Os juízes e os magistrados do Ministério Público são convidados para as tribunas de honra e viajam com as comitivas – retribuem partilhando informações e recusando participar em buscas. Os agentes da autoridade, em troca de proteção, fecham os olhos aos crimes praticados pela claque oficial do clube, um braço armado que ameaça árbitros, dirigentes, famílias e jornalistas.
Controlam todo o futebol em Portugal. Conseguiram meter o poder no Norte e encher a Liga e FPF de portistas. Controlam a arbitragem através da classificação de árbitros, promovendo a internacional quem serve os seus intentos. Instalaram a cultura do medo e opressão no Centro de Treinos de Árbitros, na Maia. Quando interessa, para os jogos dos rivais apenas são nomeados árbitros formados na AF Porto ou totalmente alinhados com o clube. Controlam a Unilabs, que faz os testes de Covid-19 para a Liga, que tem como Diretor Executivo de Operações Sérgio Gomes da Silva, filho de Fernando Gomes (presidente da FPF), e tem como Chefe Executivo Luís Menezes, adepto confesso do FC Porto, filho de Luís Filipe Menezes, ex-presidente da Câmara Municipal de Gaia e principal responsável pelo escândalo do financiamento do centro de estágio do Olival a favor do FC Porto. Controlam tudo, e às claras.
No dia 8 de janeiro, no Estádio António Coimbra da Mota, assistimos a mais um roubo de igreja – um golo mal anulado, uma expulsão perdoada e mais uma «vitória à FC Porto» – e os comentadores da SPORT TV, nervosos, a fazerem de tudo para ocultar a situação, como sempre. Hoje, os três jornais desportivos prestam-se exatamente ao mesmo papel, sem qualquer tipo de vergonha.
Em suma, um clube regional de futebol controla a seu bel-prazer órgãos de comunicação, organismos desportivos, arbitragem, clubes concorrentes, saúde, polícia e justiça. Portugal, de forma geral, e não apenas no futebol, caiu nas mãos de pessoas erradas, que usam o desporto para outros fins que não a sua essência. Retiraram tudo o que havia de bom na competição e na arte da prática do futebol e trouxeram tudo o que de menos bom existe: a corrupção, a contrainformação, as mentiras, as guerras.
É penoso gostar de futebol neste país. É tudo uma mentira.