Critério? Qual critério?

O campeonato aproxima-se do seu final e, infelizmente para nós benfiquistas, a luta aparenta cingir-se ao Sporting CP e FC Porto. O primeiro que não é campeão há 20 anos, o segundo que vêm ganhando consistentemente nas últimas décadas. E para se ganhar consistentemente é preciso adquirir hábitos, hábitos esses difíceis de mudar, até porque dão resultado.

Esses hábitos são bastante evidentes e claros: pressão e coação sobre árbitros, delegados e outros responsáveis da classe da arbitragem; manipulação da comunicação social; controlo de outros clubes.

Falaremos apenas em relação ao primeiro ponto.

O último exemplo do mesmo tem poucas horas e veio para a comunicação social, sob a forma de “recado”: «Naqueles lances em que deve haver intervenção do VAR, não estão a cair para o nosso lado. No lance final do Francisco [Conceição], há um desvio claro com o braço. Acredito que para o árbitro seja difícil, porque é um lance muito rápido, mas quem está sentado numa cadeira consegue ver perfeitamente que é penálti. E antes, numa falta em que há um livre e depois o Nanú encurta e a bola bate-lhe no braço, aí é livre e dentro da área não é penálti».

E no rescaldo do mesmo jogo, Sérgio Conceição faz bingo e consegue ainda trazer à colação a APAF: «Se calhar é a informação que passa ou a recomendação da APAF, não sei. Mas depois vemos durante o jogo faltas não assinaladas, a deixar correr, e depois num simples encosto é falta e começa a irritar os jogadores em campo. Penso que tem de haver mais critério, não é de um momento para o outro deixar correr o jogo, os próprios árbitros não estão habituados, é verdade. Tem de ser pensado, tem de se reunir para depois dar algo mais ao futebol português, mas sem dúvida nenhuma que o tempo útil de jogo é um problema grande do nosso futebol.»

O que tem piada e reflete uma certa ironia, é observar Sérgio Conceição a queixar-se quando o FC Porto é, de longe, a equipa mais beneficiada em termos de cartões amarelos mostrados ao longo da época. São factuais os números: FC Porto tem um total de 41 cartões amarelos mostrados, enquanto o SL Benfica tem 61 e o Sporting CP tem 68. Mais força ganha este facto quando, das 3 equipas em causa, aquela que mais faltas comete é, pasme-se, o FC Porto.

Que critério quer Sérgio Conceição?

Individualmente, o SL Benfica tem 2 jogadores no top 20 dos jogadores com mais amarelos. Sabem em que lugar aparece o primeiro jogador do FC Porto? Para cima do 30º lugar, e é Jesus Corona. Perguntam-se, em que lugar estão os carniceiros Pepe e Sérgio Oliveira? Nós respondemos, estão em 93º.

Não há muito a fazer, senão rir.

Outro dado indesmentível diz respeito ao número de penaltis favoráveis. O FC Porto tem a módica quantia de 13 (!) penaltis a favor. 13. Treze. Uma média de quase 1 penalti a cada 2 jogos. A segunda equipa com mais penaltis, o Santa Clara, tem 8. E o SL Benfica? Tem a mísera quantia de 1 penalti a favor. Um penalti em 28 jogos.

Mas «o SL Benfica joga pouco, cria poucas oportunidades, não justifica penaltis», dirão. Pois bem, se uma equipa tem 57 golos marcados e a outra 54, como se justifica tão díspar diferença de penaltis a favor? Mais, o SL Benfica era, no final de Março, a equipa que mais oportunidades de golo criava nas seis principais ligas europeias (algo natural, visto ser, também, a equipa com mais posse de bola da Liga).

Porém, na organização de Contumil não é apenas o treinador a vir pressionar e mandar recados. Tivemos, bem recentemente, Francisco J. Marques a vir comentar a arbitragem do Moreirense – Sporting, reclamando a ausência de amarelos a Palhinha. Não discutindo o tema Palhinha, “hipocrisia” é a única palavra que descreve Francisco J. Marques face aos dados estatísticos apresentados acima.

O FC Porto só assim consegue e sabe ganhar. Estratégia constante de vitimização, procurando afastar de si os holofotes, direcionando-os para os rivais. Qualquer pessoa com olhos na cara sabe qual o clube que vem sendo mais beneficiado, e também qual o mais prejudicado. E se Sérgio Conceição fala em falta de critério, concordamos. Tivesse havido critério por parte da arbitragem ao longo do campeonato, e o SL Benfica estaria certamente na luta pelo título. Não defendemos vitórias morais, mas este campeonato é uma mentira.

E assim se constrói uma narrativa.

De um lado um clube, o FC Porto, que só sabe jogar sujo e não se coíbe de coagir, pressionar e deturpar dados, do outro lado um clube, o SL Benfica, que opta pelo silêncio, deixando que os soundbytes vindos de cima se instalem na opinião pública. Se o SL Benfica quiser, é muito fácil pôr os pontos nos i’s. Basta dar-se ao trabalho de compilar os lances em que o FC Porto foi beneficiado e o SL Benfica prejudicado, e o resultado será claro.

Aliás, sem mais demoras, nós fazemos questão de vos presentear com o vídeo.