“Tenho grande confiança no Pinto da Costa, no Sérgio Conceição. E tenho de respeitar quem está ali à volta…”, dispara
Durante o programa Trio D’Ataque, da RTP, neste domingo, discutia-se a situação desportiva do FC Porto, que está a sete pontos da liderança e terá na próxima ronda uma jornada porventura decisiva, diante do Benfica.
No entanto, António Oliveira, antigo futebolista e comentador afeto ao clube da Invicta, não está preocupado com as contas do título.
“O FC Porto está numa fase menos boa. Está! Mas não é só nos resultados [desportivos]. Isso, a mim, não me diz nada. O resultado neste momento não é o que mais me preocupa. Eu sei que tenho uma grande confiança no Pinto da Costa, uma enorme confiança no Sérgio Conceição. E depois tenho de respeitar quem está ali à volta…”, disparou.
“A minha preocupação está muito para além dos resultados. Vai para o défice, para o endividamento… Essa é que é a minha preocupação”, prosseguiu.
António Oliveira aponta o dedo a Fernando Gomes, administrador da SAD responsável pela área financeira. E recorda as declarações desse dirigente, feitas em 2015.
“’Uma má situação financeira traz constrangimentos ao desenvolvimento desportivo do clube. Períodos de maus resultados financeiros estão normalmente próximos dos maus resultados desportivos’”, cita, prosseguindo com a ideia: “Não sou eu que o digo… É alguém que está por dentro. Então, a crise foi criada por dentro. Não sou eu que vou criar crise, ao ter uma mera opinião que tem o sentido de alertar as pessoas para o FC Porto estar a perder gás, a perder força na liderança”, aponta.
Para António Oliveira este é o grande problema que o clube enfrenta, no futuro, correndo o risco de perder o comboio dos mais poderosos, na definição dos quadros competitivos europeus – onde os mais ricos vão encaixar milhões, numa elite que pode criar um novo fosso.
“Cada vez mais temos a noção de que os calendários vão ser uma treta. Está feita e está fechada esta prova dos chamados convidados. Vinte clubes já estão outros serão convidados. O primeiro [classificado da I Liga] ainda vai, mas os outros só entram por convite. Imaginem que o FC Porto cai nesta estratégia que está montada pela FIFA e pela UEFA, nas tais Superligas semifechadas?”, questiona.
Naquele programa da RTP3, o antigo selecionador traçou um quadro negro do futebol do futuro, onde o poder económico determinará a queda de alguns clubes históricos.
“Nessa Superliga, o dinheiro vai entrar a rodos, vai entrar de todos os países, sem controlo absolutamente nenhum. Se o FC Porto perde este comboio, qual será o seu futuro? Não acha que eu devo estar preocupado, porque gosto do Porto? Tenho de estar preocupado, quando alguém [Fernando Gomes] me diz… [António Oliveira faz uma pausa, observa os documentos que transporta e sublinha que quer “colocar as coisas tal qual como elas são”. E passa a ler dados do exercício de 2015, onde constam capitais próprios da SAD de 83 milhões de euros de capitais próprios positivos, no exercício de 30 de junho de 2015].
“Em janeiro de 2016, numa entrevista dada pela mesma pessoa, reitera a promessa: ‘Iremos pagar os custos, pagar as dívidas e ter uma gestão sã’. Pois bem, em 30 de junho de 2018, os capitais próprios eram 38 milhões negativos e os custos não só não revelaram qualquer descida como aumentaram cinco milhões. Acha que não devo estar preocupado? Qualquer portista tem de estar preocupado. E não digo isto para desunir o clube. Pelo contrário. Todos os portistas querem o clube unido. E eu encabeço essa união, mas não no sentido especulativo. Não sou candidato a coisa nenhuma! Não quero! A minha vida não está estruturada para isso. Eu quero o bem do clube. Eu e todos os portistas queremos títulos!”, explica.
Com o cuidado de apresentar números e factos rigorosos, observa os documentos que transporta consigo e cruza declarações de Fernando Gomes com a realidade.
“Mas podemos ir mais longe, para ficar tudo clarinho, clarinho, clarinho. Em três anos, os capitais próprios deterioraram-se em 12 milhões de euros. Resultado: sanção da UEFA. FC Porto intervencionado. E continuamos… Ainda em 2015, o FC Porto celebrou novo contrato de direitos televisivos e [publicidade nas] camisolas com uma empresa chamada Altice, de 457 milhões. E o senhor responsável pela área financeira diz: ‘Este contrato permite uma gestão mais objetiva e não estar dependente dos ganhos ocasionais’. Sou eu que estou a especular? A dividir? Não. É a preocupação que tenho, tal como os outros portistas”, esclarece.
António Oliveira prossegue esta timeline de incongruências que deteta: “Em 2018, ainda antes do contrato [com a Altice] entrar em vigor, já o FC Porto tinha antecipado 201 milhões de euros. Isto é, quase metade. Mais uma preocupação”.
Falando como acionista, mas acima de tudo como adepto, recorda que, em 2019, “foram alertados de que o clube estava absolutamente dependente das receitas da Champions”, que previam 60 milhões de euros que nunca entraram”.
“Mais um afudanço… Este é um quadro que dá origem a uns textos que eu tenho o prazer de escrever de vez em quando…”, acrescenta.
Apesar do pessimismo que não disfarça, Oliveira considera que “as coisas ainda podem ser revertidas”.
“É possível, porque continuo a acreditar na competência de Pinto da Costa. É o meu presidente até quando ele quiser. Não inventem histórias, não inventem projetos, não inventem bandeiras. Vou voltar ao assunto, para o bem do clube. Criticando”, realça.
Numa análise à área desportiva, Oliveira reiterou elogios a ao presidente e ao treinador. “Sérgio é um treinador muito bom. Dá tudo o que tem. Defende o clube como poucos. Tem competência, tem o grupo na mão (…). E eu acredito que o presidente, juntamente com o treinador, unir toda a nação azul. E isso torna o clube numa força muito grande”, conclui.