“Terminou em pesadelo o sonho europeu. A tragédia mais do que desportiva é financeira. Explico de seguida. Em 2014 a SAD do FCP registava capitais próprios negativos de 33 Milhões Euros.
A forma que a SAD encontrou para sair da falência técnica e cumprir os ratios do fair play financeiro foi passar quase metade do Estadio do Dragao (47% da Euroantas) para o perimetro da SAD.
Já nesse ano, na respectiva Assembleia Geral que discutia e aprovava a operação de passagem de 47% do Estádio para a SAD, alertei os Administradores da SAD do FCP para o descontrolo financeiro do clube.
Alertei ainda p/facto de que se não houvesse outro rigor na gestão financeira do clube, em poucos anos estaríamos ali de novo a discutir a passagem do resto do Estádio p/ SAD e a viver constrangimentos financeiros que iriam estrangular o clube e afectar o seu projecto desportivo.
Em resposta, o Dr. Fernando Gomes assegurou-me que era seu compromisso de honra baixar os custos nos próximos anos, nomeadamente a folha salarial em 20 Milhões de Euros. A operação foi, então, aprovada e os capitais próprios da SAD do FCP passaram, fruto dessa operação e do resultado do exercício, para os 83 Milhões Euros positivos. Isto no exercício findo em 30.06.2015. Há 4 anos.
Dizia o Dr. Fernando Gomes em Outubro de 2015: “Uma má situação financeira traz constrangimentos ao desenvolvimento desportivo do clube. Períodos de maus resultados financeiros estão normalmente próximos de maus resultados desportivos”. Em Janeiro de 2016, em entrevista ao DN, o Dr. Fernando Gomes voltava a reiterar a promessa. “Iremos baixar custos, pagar dívida e ter uma gestão mais sã”.
Pois bem, no ultimo exercício com contas conhecidas (30.06.2018), os capitais próprios eram de 38M negativos e os custos não só não revelaram qualquer descida como ainda aumentaram cerca de 5M Euros face ao ano anterior. Em 3 anos os capitais próprios deterioram-se em 121 Milhões de Euros. Entretanto, durante esse período, e devido ao descontrolo das suas contas, o FCP incumpriu com as regras do fair play financeiro. Fruto disso, foi sancionado por parte da UEFA (em multa e na limitação da inscrição de jogadores) e viu-se obrigado a celebrar um acordo com esta onde ficaram estabelecidos parâmetros financeiros que o clube se obrigava a atingir nos anos subsequentes.
Ainda durante esse período (Dezembro de 2015) o FCP celebrou um novo contrato de direitos televisivos e de patrocínio de camisolas com a Altice no montante de 457,5 Milhões de Euros, cujo inicio da produção dos respectivos efeitos seria (e foi) a 1 de Julho de 2018. Nessa altura, e comentando os efeitos desse contrato na vida do clube, dizia o Dr. Fernando Gomes: “Permite gerir o clube de outra forma, mais objetiva económica e financeiramente e sem estar tão dependente dos ganhos ocasionais em janeiro e no final da época. De resto, a ideia é que este dinheiro não vá para reforços, porque para isso o FC Porto gera recursos suficientes.”
Pois bem, em 2018, antes mesmo daquele contrato entrar em vigor, o FCP já tinha antecipado 201 Milhões de Euros do seu valor (quase metade). Em Outubro de 2018, na Assembleia Geral do Clube, relembrei à Administração da SAD do Porto o que ali lhes havia referido há 4 anos atrás e as promessas então feitas pelo Dr. Fernando Gomes. Sublinhei que a gestão do clube era nefasta e errática e colocava em causa todo o seu projecto desportivo, fazendo mesmo perigar a sua viabilidade. Alertei ainda para o facto de que o orçamento para o ano de 2019 evidenciava à saciedade que o clube estava absolutamente dependente das receitas da Champions (o orçamento previa 67M de Euros) e, ainda assim, da venda de 34M de jogadores para não ter prejuízo no final do ano.
Perante tudo aquilo afirmei: “A gestão sã de um clube não pode estar dependente de a bola bater na barra ou entrar. O que farão se, porventura, não tivermos acesso à Champions para o ano e deixarmos de auferir os tais 60M Euros que, ainda assim, não nos permite ter lucro?
Como pode o nosso clube ser gerido desta forma, como que no fio da navalha, em que à mínima vicissitude tudo se pode desmoronar irremediavelmente?”
Pois bem. Para meu desgosto e de milhares de adeptos, a resposta terá de ser dada em breve.
E para aqueles que apregoam que este tipo de comentários e apreciações não devem ser publicamente assumidos por desestabilizar o “grupo” e criar divisões, apenas me apraz dizer-lhes isto:
O meu amor e a minha fidelidade é ao meu clube. Esse é que está acima de tudo e todos. É a ele e por ele que eu me bato por rigor, exigência, transparência, hombridade e competência daqueles que dirigem os seus destinos.
Se há muitos que, por irracionalidade, favor, desconhecimento ou desinteresse, não sabem, não querem saber e têm raiva a quem sabe o ponto a que chegamos, também há aqueles que se preocupam e que não prescindem de exercer a sua qualidade de associado.