Mudança de paradigma no tratamento do Porto na comunicação social.
Durante décadas a estratégia do Porto, assente na constante vitimização (“nós contra todos”) e na ofensiva contra o “centralismo” do Terreiro do Paço, local que sempre colonizaram, formou um manto protetor perante autoridades públicas e mesmo perante o escrutínio esclarecido da comunicação social.
As violações de segredo de justiça visavam, invariavelmente, o Benfica e o Sporting, deixando o Porto apenas suspeito de práticas nunca se revelavam. Mas que eram conhecidas. E quando se revelavam, como no processo Fénix, em que ficou provada a contratação pelo Porto e Pinto da Costa de serviços de segurança ilegal, a acusação acabava por resultar numa absolvição numa comarca próxima.
A justiça desportiva nunca foi um elemento de verdade porque tramitava os processos condicionada pelas estruturas de poder da Liga e da FPF, devidamente alinhadas com a omnipresente força do apito.
O único caso que rompeu esta teia – a apito final – acabou por soçobrar na jurisprudência dos tribunais administrativos, no tempo em que o ex-dirigente portista – Lúcio Barbosa – exerceu funções de Presidente do Conselho Superior dos Tribunais Administrativos e Fiscais.
Ora, tudo se parece alterar quando o lesado é o fisco!
Autoridade Tributária e Ministério Público quando trabalham em conjunto têm uma lógica muito própria, que não passa pela contabilização de títulos, de adeptos, ou de reações nas redes sociais.
No seu seio, os serviços de elite – Departamento Central de Investigação e Ação Penal e Direção de Serviços de Investigação da Fraude e Ações Especiais – identificam Pinto da Costa e Porto como alvo/bandeira para demonstrar que o Estado, coletor inclemente dos rendimentos da classe média, também consegue atuar junto de entidades historicamente protegidas.
Mais do que esmiuçar cada um dos casos hoje revelados, que se mantêm apenas indiciados, o que nos apraz constatar é que o poder de Pinto da Costa já não é suficiente para conter, na redoma da clubite aguda, a informação sobre práticas suspeitas que podem e devem ser investigadas. E que todos temos o direito de conhecer.
Trata-se de toda uma estratégia comunicacional que vai ruindo.
A revelação criminosa de correspondência eletrónica do Benfica pelo Porto (lato sensu) encontra-se em investigação.
As transações financeiras envolvendo clubes competidores na Liga Portugal, com alegado prejuízo da regular competição, encontra-se em investigação.
A criminalidade financeira e tributária, alegadamente praticada pelo Porto, para lesar o Estado na arrecadação de receita fiscal encontra-se em investigação.
É toda uma cultura organizacional de ilicitude lesiva da concorrência e da legalidade, e o contributo de Pinto da Costa para a sua formação, que se encontram em investigação.
No fundo, o principal objetivo de uma rede de informação polarizada, vulgo cartilha portista, que tinha na figura agregadora de Pinto da Costa o seu núcleo inspirador, encontra-se comprometido por uma inflexão mediática.
Curiosamente, esta inflexão protagonizada pelo Grupo Cofina, que leva os outros grupos de comunicação a reboque, surge numa altura em que o Porto se concentra nos ataques ao setor da justiça, antevendo o perigo que pode advir da aplicação rigorosa e imparcial da lei. É mais uma vez o Porto “contra tudo e contra todos” mas com sabor a vinho estragado.
Aguardamos com curiosidade a reação de algumas figuras mediáticas a estas investigações.
Já não era sem tempo!