Querem mesmo falar em flops?

Na sequência da venda de RDT, o jornal “O Jogo” lançou recentemente um artigo onde faz as contas a algumas contratações do SL Benfica, chegando à conclusão que foram gastos mais de 60M em flops. Para além de RDT, o artigo menciona ainda os nomes de Ferreyra, Castillo, Carrilo, Jovic, entre outros.

Pois bem, importa começar por dizer que se é verdade que do ponto de vista desportivo nem todos singraram, a realidade é que do ponto de vista financeiro – e tal como o artigo diz – o saldo entre o valor pago e o valor recebido pelas vendas é positivo. O título da noticia tem um único intuito: levar o leitor a acreditar que todos os negócios foram ruinosos, o que está longe de ser verdade.

Por uma questão de imparcialidade, seria importante o jornal “O Jogo” fazer o mesmo exercício em relação ao FC Porto. Curiosamente, decidiram não o fazer. Não faz mal, fazemos nós por eles.

Na última década, em relação às contratações mais dispendiosas do FC Porto, podemos encontrar as seguintes contratações:

  • Adrian Lopez – 11M (60%);
  • Imbula – 20M;
  • Iturbe – 4.5M;
  • Quintero – 10M;
  • Diego Reyes – 7M;
  •  Indi – 7M;
  • Depoitre – 6M;
  • Boly – 6M;
  • Waris – 5M.

Analisando um a um:

Adrian Lopez – contratado por 11M por 60% do passe. Nunca se conseguiu afirmar no clube, tendo andado de empréstimo em empréstimo, acabando por sair a custo zero no último Verão. Se somarmos aos 11M os prémios pagos aquando da transferência, os salários pagos, e descontando o que foi recebido pelos empréstimos, resta a questão: foi ao não foi flop?

Imbula – chegou ao FC Porto com grande cartel e expectativas, daí o valor pago: 20M. Após apenas 24 jogos, saiu por 24M sem honra nem glória. Se do ponto de vista desportivo é inegável para todos que foi um flop, é igualmente verdade que a venda até deu lucro. Curioso que os indignados pela venda de RDT não tiveram celeumas em considerar a venda de Imbula um grande ato de gestão, ou um exemplo de como tratar ativos e atuar no mercado lucrando com um flop.

Iturbe – tido como uma das maiores promessas argentinas, os 4.5M pagos não pareciam descabidos. Todavia, por azar ou incompetência de quem de direito, falhou redondamente no clube. Entre a equipa principal e B, participou em apenas 16 jogos. Foi emprestado sucessivas vezes e foi finalmente vendido por 15M. O FC Porto que agradeça ao Hellas Verona por ter conseguido potenciar o jogador, porque por cá foi inservível.

Quintero – jogador fetiche do inatacável Luís Freitas Lobo (“vai Quintero!”), chegou ao FC Porto por 10M. Apesar de até ter jogado regularmente (mais de 60 jogos), o FC Porto foi incapaz de aproveitar o potencial do jogador colombiano, tendo de assumir o erro e emprestá-lo. Conseguiu finalmente vendê-lo no passado Verão. Por quanto? Por uns fantásticos 3.2M. Excelente negócio, claramente.

Diego Reyes – Outra aposta que parecia ser acertada e, dada a margem de progressão do jogador, os 7M não escandalizavam. Infelizmente para o mexicano, os mais de 70 jogos em que participou entre equipa principal e B não foram suficientes para agradar à estrutura. Só mais um caso de incapacidade por parte do FC Porto em potenciar um jovem talento. Acabou por sair a custo zero no Verão de 2018. Grande negócio do FC Porto, não acham?

Indi – vindo do Feyenoord, 7M pareciam ajustados e os 71 jogos por cá disputados assim o confirmavam. Contudo, passadas duas épocas foi emprestado. O FC Porto conseguiu recuperar o investimento, todavia não obteve qualquer lucro, pois vendeu o jogador pelos mesmos 7M. Valorização? 0!

Depoitre, Boly e Waris – juntos custaram mais de 17M ao FC Porto. No total participaram em 29 jogos. Depoitre saiu por 3.8M, Waris continua no clube sabe-se lá a fazer o quê e Boly foi o único que acabou por se safar, tendo sido vendido por 12M.

Além dos jogadores acima referenciados, quem não se lembra dos 22 flops brasileiros contratados para a equipa B, alguns terminando a carreira precocemente e outros acabando por mudar de profissão?

É óbvio que num contexto exigente como é o futebol de alta competição, haverá sempre negócios/contratações que acabarão por não ter o devido sucesso. É impossível acertar sempre. Mas, tendo uma estrutura sólida e com gente competente, existe uma forte possibilidade de minimizar riscos e evitar prejuízos, tendo inclusive lucro, como teve o SL Benfica. E se a vertente financeira é importante, a parte desportiva é aquela que mais acaba por pesar. E o que têm em comum Ferreyra, Carrilo, Jovic, Gabriel Barbosa, Victor Andrade, Funes Mori e Derley? Todos eles podem dizer que fizeram parte de planteis campeões pelo Sport Lisboa e Benfica.

Em relação ao FC Porto, é notória a falta de estratégia desportiva, o que poderá estar, ou não, intimamente relacionado com a catastrófica situação financeira do clube. A incapacidade de segurar e potenciar talento é evidente. Herrera, Brahimi e Marcano sorriem. Perguntam porquê? Porque saíram todos a custo zero, com a agravante de serem dos elementos mais influentes no balneário portista. Certamente que se o dinheiro fosse direcionado para aquilo que é importante – a gestão do plantel – e não para outros negócios, os referidos jogadores poderiam ter continuado. Quanto muito, não teriam dado prejuízo.

Tendo estes jogadores estado várias épocas no Porto, o melhor que conseguiram conquistar foi um mísero campeonato. De resto, assistiram na comodidade das suas habitações às festas do SL Benfica. E que lindas foram essas festas, diga-se.

Dois factores podem ser apontados para estes falhanços do FC Porto:

1) deixaram de ter acesso aos nomes identificados pelo scouting do SL Benfica, como foi o caso de Álvaro Pereira, Falcão e James Rodriguez, jogadores que foram roubados através do acesso indevido e criminoso a informação e correspondência privada;

2) a luta interna pelo poder está a prejudicar inegavelmente a gestão desportiva, com cada uma das facções (a de Pinto da Costa, a do seu filho Alexandre e a de Pedro Pinho) a tentar levar a sua avante e em proveito próprio. Oxalá continuem.

A estratégia do SL Benfica está a surtir efeito não obstante de poder vir a ser melhorada em vários pontos, como já tivemos oportunidade de referir. Tendo vindo a apostar em jovens, rentabilizando jogadores e conquistando títulos frequentemente, a vertente financeira não tem sido problema.

Diz-se que um jogador rende mais num coletivo forte, e se rende mais, também valoriza mais. É isso que está a acontecer no SL Benfica. Um clube vencedor tem a capacidade de potenciar ganhos e minimizar perdas. Se considerarmos que com essa estratégia temos tido resultados financeiros bastante positivos e que nos últimos seis campeonatos conquistámos cinco (deviam ser seis em seis!), não há como negar: o trabalho tem sido bem executado, e há que continuar. Comprar bem, vender bem, ser competente e vencer.

É por tudo isto que é absolutamente crucial estarmos focados dentro e fora das quatro linhas para que possamos ser bicampeões. Não basta o polvo estrebuchar, há que matá-lo.