Luis Luz Nem lixívia branqueia tanto!

A SAD do FC Porto anunciou esta terça-feira à Comissão do Mercado de Valores Mobiliários (CMVM) um resultado líquido positivo de 33,4 milhões de euros, o melhor resultado de sempre.

Sobre este resultado, algumas notas:

1. A ausência de receitas de bilhética teve pouquíssimo impacto nas contas, pois o encaixe daí proveniente era residual (6M). Nesse aspeto, a pandemia não teve repercussão adversa.

2. Publicidade e sponsorização também caiu de 21M para 15M.

3. Para além da receita significativa das provas da UEFA (cerca de 74M), a FC Porto SAD concentrou ainda todas as vendas de atletas no período dos 2 anos, atingindo este ano o valor de 75M. No ano anterior não passaram dos 0,6M. Não obstante a inclusão de Danilo, Alex Telles e Fábio Silva no exercício, aqui deverá ter havido alguma contabilidade criativa.

4. Há ainda que considerar a transferência para este ano, por força da pandemia, de parte das receitas dos direitos televisivos (49,2M de 2020/21 contra 36,2 M de 2019/20), embora este efeito tenha ocorrido também com outros clubes.

5. Por melhores que sejam os resultados líquidos apresentados, há que ter em consideração o valor altamente negativo (-115.940M) que tiveram no ano anterior, cuja situação está bem patente na situação patrimonial em que se encontram, designadamente em termos do valor do passivo (526M) e da dívida financeira (306M).

6. A comunicação social refere que houve um aumento do passivo de 75M, mas curiosamente – e previsivelmente – não menciona o total do passivo (526,10 M). O binómio do ativo/passivo, que é o que realmente importa, também é convenientemente ignorado. Ora, sendo o ativo de 407,817M, significa que a FC Porto SAD tem estonteantes -118,324M de Capitais Próprios (negativos). Trocado por miúdos, encontra-se em preocupante falência técnica.

Podem consultar a página 4 do documento enviado à CMVM:
🔗https://web3.cmvm.pt/sdi/emitentes/docs/FR80770.pdf

7. Estão a endividar-se como se o mundo acabasse amanhã, e o custo dessa dívida está a aumentar a um ritmo galopante: um aumento superior a 55% em apenas 3 anos é absurdo!

8. A salvação passará pelos direitos televisivos. Aguardemos para ver como se vai processar a divisão entre os clubes (que esteve, e bem, na génese da discordância). De seguida saber como se vai processar a recompensa a dar aos operadores televisivos que têm contratos a vigorar e que já adiantaram quantias de largos anos – no caso do FCP, pouco ou nada deve sobrar. O Benfica terá um papel decisivo nesta operação, pois é o único clube que não beneficia diretamente da centralização.

9. Concluindo, para passar de -116M para +33M em ano pandemia é preciso, de facto, muita cosmética. Ou, se preferirem, muitas marteladas. Quando fecharem portas o Fernando Gomes talvez se safe como carpinteiro.

Como nota de rodapé lembrar que, durante anos, os passivos dos três maiores clubes portugueses foram tema na comunicação social. O Benfica deixou de ter o maior passivo – apresenta um passivo de 379,606M, um ativo de 523,260M e capitais próprios positivos de 143,654M -, o tema deixou de estar na agenda mediática. Nem a lixívia branqueia tanto.

E agora, TV comentadeiros e avençados sem vergonha, já não interessa quem tem o maior passivo?